sábado, 22 de janeiro de 2011

A poesia do rap


Não nego minhas raízes, curto música eletrônica pra caramba, ela me envolve, me hipnotiza...

No rap o que mais admiro, é esta mesma a palavra: "admiração", é como os rappers conseguem expressar o que sentem de uma forma tão clara, humilde e forte a realidade da vida.

Nisso, navegando pelo blog do Crônica Mendes, uma poesia me chamou a atenção. Ela segue logo abaixo.

Apertado
Às cinco da manhã,

Saio apertado de uma noite de sonhos

atordoados.

Um gole de café, frio, de ontem

desce apertando a garganta.

É muito cedo, mas

O tempo me aperta,

Estou atrasado.

No ponto em ponto,

subo no ônibus, apertado.

Chego com o tempo cravado.

Durante todo dia, me aperto para cumprir

a meta do “necessário”.

Mesmo apertado, o tempo é precioso,

não permite minha ida ao banheiro.

Pouco tempo depois, hora do almoço.

Lugar apertado, minha marmita pequena, apertada,

entre arroz feijão e mais nada.

a dor me aperta o estômago.

Já são 18 horas, mas estou aqui a 12.

Me apertando para construir o que não será meu.

Eu vou voltar, novamente apertado,

Estamos todos apertados como sardinha enlatada.

Chego as 21.

Num cômodo apertado.

Um beijo na família, um banho no corpo,

Um aperto no coração...

Me aperto para dormir, me aqueço.

Depois, no dia 30, as contas me apertam...

me sufocam, querem me matar

querem que eu me mate.

Me apertam

para eu aperta o gatilho.

Me apertam,

não me querem aqui.

5 da manhã, outra vez,
Domingo.

Por: Crônica Mendes